Esta é uma carta de uma măe Portuguesa...
Lisboa, 28 de abril de 1998.
Querido filho Luís Antunes...
Te escrevo estas linhas para que saibas que estou viva. Te escrevo devagar, porque sei que tu năo consegues ler rápido. Bom, năo vais mais reconhecer a casa quando vieres porque a gente mudou. Finalmente enterramos teu avô Miguel. Encontramos o cadáver, pois, com esse negócio da mudança, ele estava no armário, desde aquele dia em que ganhou da gente, brincando de esconde esconde. Hoje, tua irmă Sônia teve um nenę, mas como năo sabe se é menino ou menina, năo posso dizer se vocę é tio ou tia. Quem năo tem aparecido por aqui é o Tio Osvaldo que morreu totalmente no ano passado. E teu primo Rubens que sempre acreditou ser mais rápido que o touro, comprovou que năo era. Estou muito preocupada com o cachorro Jorjăo, que insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato. Ah! Finalmente os engarrafadores de refresco aqui de Portugal tiveram a grande idéia de por um letreiro na tampinha que diz : ABRA POR AQUI. Que achas ? Teu irmăo Alaor fechou o carro com a trava e deixou as chaves dentro : teve de ir lá em casa, para pegar a chave duplicata e poder tirar todos nós de dentro do carro.... Passamos o maior calor!! Esta carta, te mando com o José Walter, que vai amanhă para aí. A propósito,
será que podes pegá-lo no Aeroporto? Bom meu filho. Năo te escrevo o endereço porque năo sei. É que a última família portuguesa que vivia aqui nesta casa, levou os números para năo terem de mudar de endereço.
Se encontrares a dona Anésia, dá um alô de minha partem, caso năo a encontres năo precisa dizer nada.
Tua măe que te ama : Eu
PS. Ia te mandar $100.000 escudos, mas já fechei o envelope.